segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Taxi Colectivo

Táxi colectivo de Maputo, capital do Moçambique

Aquele espírito de desenrascar com os 16 anos de Guerra civil a que fomos impostos, foi imperativo que Moçambicanos se desdobrassem como se aranhas fossem para se fazerem transportar. Havia os TPU (transportes públicos urbanos), que se tornaram TPM (transportes públicos de Maputo). Os porquês disso não sei dizer, ainda era mufana demais para perceber estas manobras.

Um em cada dois foram ficando arquivados…O transporte coletivo que não chegava, agora minguava.

Não sei de quem foi a ideia ou se faturou, mas aquilo era coisa de primeiro mundo mesmo: Radio Táxi. O povo ligava para a central e um táxi de marca Lada, de cor amarela, buzinava lá fora à porta. As mamanas andavam em grande estilo. Aquilo era chique de doer, pena que foi sol de pouca dura.

O povo tomou iniciativa, as carrinhas Mitsubishi Canter, Peugeot, Toyota Hilux já não carregavam só mercadoria. O negócio melhorou, passaram a levar trabalhadores atrasados. Pelo menos já se chegava a algum lado, apesar do estado descarteirado, despenteado e catingado a que se sujeitava. Mas isso não era problema de mais… Afinal chegava-se.

Os acidentes multiplicavam-se maningue e as mortes desproporcionavam. O governo abriu um dos olhos, já não me recordo se o direito ou esquerdo, mas abriu e interviu. “Agora tem de se criar mecanismo de segurança para os passageiros!” - Disse. E o olho fechou novamente. Acho que é automático.

O povo gradeou a carroçaria e cobriu com lona. Já ninguém se molhava a chuva.As mamanas continuavam a carregar as galinhas e cabritos quando não fosse a colheita da machamba, sempre rota adentro.

Alguem viu oportunidade de negócio, talvez fosse monhé ou ministro. Sabem como é, os gajos tem faro pro negócio.Importaram forgunetas de marca Iveco sem janelas mas com bancos. Não dava pa reclamar muito, afinal o povo já chegava em relativo conforto no táxi amarelo. As ruas encheram-se de táxis amarelos. Alguém faturou maningue taco, mas não lhe disseram que poderia faturar ainda mais com reposição de peças. Tudo mingou como os TPM.

O modelo dos madjonidjonis funcionou aqui também. O povo mudou de meios, andava nos Toyota Hiaces de 16 lugares. Sei-o porque estava lá escrito, LOT.16 Lugares, embora possam imaginar a lotação; sem querer especular, acho que o cobrador não sabia contar, pois era frequente os passageiro ficarem de tal maneira apertados que metade do corpo sobrava pelas janelas. Esqueci-me de mencionar que o progresso trouxe janelas? Pois trouxe.

O povo continuava a chegar quando chegava. Aquela cultura de reposição de peças prevalecia.A situação estava igual a tudo nessa época. Os pneus rodavam mais carecas que o bolso do povo, as portas amarravam-se com pedaços de arame. Mas a situação não andava somente na pior, houve também progressos, continuava-se a levar as galinhas e os patos mas já não se levava cabritos.

Há um ditado que diz - “Lixo de uns, riqueza de outros”. Bendita evolução dos japoneses. A lei deles não permite que um veículo permaneça mas de 5 anos na estrada (acho que é isso); solução: exportar para africa. Com certeza os africanos saberão dar destino. E assim começaram a chover veículos de todo o tipo, standes de vendas de carros usados. Tudo made-in-japan. Verdade seja dita, dão um jeito daqueles, que África esta repleta.

Criou-se indústria, até assistência técnica veio do Japão. A roda esta rodar.
Hoje TPM acordou, já importou manchibombos de 64 lugares da China. Vão ser movidos a gaz de Pande, ouvi dizer. Mas já estão rosando as acácias nas avenidas.

Tudo nesta terra è relativo. Depende de que lado se está: do tripulante ou do passageiro. Vamos acompanhando o desenvolvimento dos táxis coletivos. As marcas e modelos mudaram com o tempo. No início pagava-se 100 paus, a gasolina mudou de preço, a moeda nacional mudou de cara. E é claro que o preço também mudou, hoje a tarifa custa cerca de 7 vezes mais, só o nome não mudou.
O táxi colectivo do povo continua a chamar-se chapa 100.
______________________________________________________________
Breves do português moçambicano:

MUFANA - Rapaz, menino
MAMANA - Mulher, Senhora
MANINGUE - Muito
MACHAMBA - Terra de Cultivo, Horta, Plantação
TACO - Dinheiro
GAJO - Fulano, Individuo
MADJONIDJONI - Proveniente da Africa do Sul
MACHIMBOMBO - Autocarro
PANDE - Jazigo de gaz Natural
PAUS - Dinheiro

Sem comentários: