segunda-feira, 24 de novembro de 2008

O corredor da morte



Para quem lê o título deste artigo, fica logo sobreavisado sobre a natureza do texto. Não tenho como evitar, não tem outro pseudónimo para descrever o que se passa na província de Tete em Moçambique. Vou vos situar.

Tete e uma província que fica no norweste do país, faz fronteira com o Maláwi e Zimbàbwe. Ela é rica em carvão natural de Moatize, é cruzada pelo rio Zambeze que onde se situa a barragem hidroelétrica de Cahora Bassa, a 6ª maior do mundo. Está neste momento a desenvolver-se o progeto do Vale do Rio Doce, onde foram injectados milhões de dolares americanos em consórcios de mega-empresas multinacionais. Apesar destes e outros investimentos, a população local sabe tudo sobre a pobreza absoluta no verdadeiro sentido da palavra. A cidade esta decadente, não exite emprego, no campo as culturas são maioritariamente artesanais. Nas vilas não existe banco, os serviços administrativos são rudimentares e arcáicos. O Povo vive “ao Deus dará”.

No seio de tanta pobreza, de entre aqueles que conseguem cultivar a terra, deparam-se com o problema de escoamento da produção agrícola. Os produtos acabam apodrecendo e alimentando as pragas. Uns atravessavam a fronteira (não demarcada) para o vizinho Zimbàbwe onde vendiam o que podia na moeda local e ao câmbio do vigário.

Do Zimbàbwe, é a rota dos camioneiros para o resto da Africa. A fronteira com o Zibabwe é a porta de entrada e saída de todo o género de produtos. Muitos dos camioneiros que usam esse tragecto, estão longos dias na estrada longe de suas famílias, e ao chegar à vila, finalmente podem descansar, reagrupar as energías para seguir caminho. Isto é normal. Mas ha outros que não resistem ao chamado da carne e a luxúria e gastam ainda mais as energías e o dinheiro com as muitas meninas de todas as idades que alugam seus corpos para prazer alheio pelo sonho de um dia também seguir viagem num desses camiões para longe daquela pobreza. Enquanto isso vão faturando o suficiente para mais um prato de comida e a vida (ou morte) acontece.

Só que como “quem anda a chuva é para se molhar”, nessa comunidade de camioneiros, existe uma grande prevalência de HIV/SIDA devido ao estilo de vida pecaminoso instituido.

Com a flexibilidade típica de todas as negociatas, aqui existe a opção de se luxuriar com ou sem camisinha, dependendo do preço. Para muito homens, sexo com jeito é como comer banana com casca, não sentem o prazer da carne na carne; e nestas horas, filho bastardo é o mínimo das consequências.

O slogan do partido no poder (FRELIMO) promete “o futuro melhor” , só que para muitas dessas meninas, o futuro ainda dista bastante ou está atrasado.

Com a infeliz situação do Zimbàbwe (Inflação de 231.000.000%), todos quanto puderam, refugiaram-se nos países vizinhos de entre eles Moçambique. Pessoas de todos os níveis académicos e sociais, encontram-se hoje numa situação de pedendência total alheia para sobreviver. Houve muitos casos de mulheres da classe média que trabalhavam como secretárias em grandes escritrios, estão se dessenrascando como prostitutas para poder alimentar os filhos ainda pequenos. A polícia prende-as por prostituição, por não estarem documentadas, tudo isso quando não pedem tambem “um pouco de cheirinho.”

Quem cultiva a terra continua sem ter onde vender seus produtos.
Com a eterna teimosia de jumento do Robert Mugabe em conceder a “César o que é de César” a situação no vale do Zambeze não vai melhorar tão já para o povo refugiado e nem para os anfitriões.

Os camiões continuam a cruzar a estrada, muitos só no sentido de ir, onde levam os bem preciosos, alimentos e combustíveis de que perecem os Zimbabweanos. O vir, é aquela desgraça...
Deste lado estagnado no tempo, a miséria já esta implantada faz muito tempo, e com os hóspedes, só veio a piorar, e esse futuro melhor que recusa-se a chegar. Talvez nas promessas da próxima campanha eleitoral.
Como disse, o corredor da morte não acontece mais nada para elém de se morrer ou esperar para morrer.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

O mercado do peixe.


Falar do Mercado do peixe do Maputo, é tanto quanto melandrámatico. Tem muito que se diga em relação... O mercado do peixe é um sitio como o nome diz, mercado de peixe, onde se vende peixe e outros tantos frutos do mar. Poderia até ser um local como qualquer um onde transanta a peixe, e cheio de mamanas peixeiras, mas não o é.

Na marginal, junto ao Clube Marítimo, existe um sítio sem finesse nem requinte algum, onde o chão é chão de areia, coberto de muitas pequenas bancas cheias de Camarões enormes que se confundem com as lagostas ao lado, mexilhões, lulas, ameijoas, peixe de todo tipo e tamanho, carangueijos monstruosos... tudo fresquinho, outros ainda vivos.
Para além das muitas bancas feitas de pau, existe outro elemento que transforma no mercado em um lugar de mensão.
A volta do mercado, existem em igual quantidades as bancas, barracas-restaurantes onde se confecciona os mariscos adequiridos na hora.

As barracas devido ao espaço exímio, são todas pequenas cada uma colorida retratando belas imagens dignas de pertencer a uma “oleo sobre tela” penduranda numa exposição qualquer. O cliente escolhe o producto de sua cobiça nas bancas, e escolhe a barraca que melhor que aprevier, aqueles que são assíduos já sabem para onde se dirigirem, na “tia Alice ou tia Maria” Tanto faz, o serviço e sempre de primeira.. A titia confecciona o seu produto do geito que lhe for recomendado, enquanto isso o cliente senta-se refastelado à sombra de um enorme “canhueiro” existente no centro do mercado jorrando goela abaixo cervejas “2m” ou “Laurentinas” geladinhas.

As titias do mercado do peixe são rapidas a grelhar, pois o carvão está sempre acesso. Neste compasso de espera que não é muito, o tempo parece não passar, o ar encontra-se impregnado do aroma do peixe, camarão, etc... impossível resistir...
Quando as travesas cheirosas e fumegantes finalmente chegam a mesa, pode ter a certeza que já estará gente a babar-se de apetite. Ali, ninguém quer saber de mais nada nem ninguém, fica-se mesmo à vontade para comer como lhe ditar o apetite, a talher, com as mãos e até lamber os dedos se assim o preferir. As refeições são servidas com saladas, pão fresco, e tudo o mais que pode encontrar num restaurante convencional.
Devido ao calor tropical, ali naquele mar de mesas e cadeiras plásticas a sombra do “canhueiro”, é permitido tirar a camisa e enterrar os pes descalços na areia da praia.

No mercado do peixe, tem sempre movimento, mas é aos fins de semana que todo o mundo acaba lá; que apesar da não existência de luxo algum, estão lá com mesa marcada e tudo o que os assíduos tem direiro, directores de grandes empresas, alguns ministros, muito turista, e o zé povo que também tem barriga.

Apos encher o pandulho, entulhado de coisas que só no mercado do peixe se comem, muitos já não se enteressam pela pança gordurenta que teima em espreitar entre as casas dos botões da camisa, outros ainda param nas imediações do mercado para comprar cd’s piratas de música local, filmes “blockbusts” de Hollywood também piratas, peças de batik, escultura de madeira ou mesmo para comprar castanha de cajú...
Mas não se vá embora sem presentear ao mirone que esteve a velar pelo seu carro com uma moedinha, e se não for abusar demais, até pode dizer “kha-ni-man-bo” (obrigado)

Acredite, manjar em restaurantes todos nós já o fizemos, mas no mercado do peixe? É uma experiência ímpar.

Imagens de Mocambique.