sexta-feira, 22 de maio de 2009

Meu povo, nossas Crianças


Ser mufana em Moçambique… Não há como descrever esta fase do ser humano baseando-se em particular na criança Moçambicana; falar dos mufanas do meu pais e falar dos mufanas de África
No geral dizemos que não há diferença, mas aprofundando encontramos algumas particularidades que muitos outros mufanas não tiveram a infelicidade de experimentar. Creio que vem com o território né?

Eu nasci numa época em que ser mufana era diferente de hoje.Cresci numa época ainda mais diferente, que creio que foi doce, apesar das privações a que o meu povo passou. (Um dia ainda vos conto…)

“No meu tempo” ser mufana em Moçambique era saber que existia fartura de nada, as lojas andavam cheias de “alguma coisa”, o cardápio não variava nas mesas, oscilava entre o pouco e o nada. E a gente foi crescendo mesmo assim. Este era o cenário em grande parte dos lares “do meu tempo”.

O 1°. de Junho é o dia Internacional da Criança. As entidades juntavam-se onde pudessem para acarinhar, instruir e …. mas isso já passou; o nosso socialismo já passou a historia, apesar de ainda haver corações dedicados aos mufanas do meu pais, como o exemplo do projecto Aldeia de Chipanca.Os mufanas do Xilunguíne viviam uma realidade madrasta, protegidos da impiedade dos males cometidos em nome da guerra.

Dos mufanas que se atreveram a aventurar para o xilunguíne, quem não teve muita sorte, teve de lutar por uma vaga nas rua da baixa, ficando a mercê de pedófilos, ilubriádos ao trabalho infantil não renumerado, e os mufanas que não tiveram a sorte de seguir seus pais na enxurrada emigrada em busca de um pouco de sobrevivência nos xilunguínes, testemunharam o como não deve crescer um mufana do meu pais. Privadas de direito de ser mirone com brincadeiras traquinas foram vitimas da guerra, desvoluntariamente patenteadas de menino-soldado carregando armas do seu tamanho, obrigadas a cometer atrocidades que ate o diabo duvida.

Ser africano também para além de ser um orgulho, é também sofrer na carne o efeito das crenças e superstições do meu povo. Não é exclusividade dos outros povos o mito da mutilação de partes genitais enquanto vivo para efeitos obscurantistas, onde se acredita que quanto maior for a dor do “doador” maior será a potência do remédio/feitiço… Cegados pela sede do poder, os mufanas de outrem são caçadas e mutiladas em nome de uma crença indiscrítivel.

Neste mundo globalizado onde os tentáculos do crime organizado se extendem-se até ao domicílio do meu povo, os mufanas também não escapam à cobiça dos seus pequenos orgãos. Se não for para o “muti” é para o leilão de quem paga mais pelo coração de um mufana africano que partiu, deixando os seus com os corações partidos.

Meu Deus, dai-nos forças! Ser Africano é maningue nice, mas também tem o outro lado… feio!Num continente onde careçemos e padeçemos de quase tudo, o sol brilha alto e forte enquanto cá mais abaixo, juntinho a realidade do chão, milhares de mufanas morrem de condenações ilimitadas. Se não for uma bala de AK47 perdida no mato, talvez seja o homem do tráfico, ou talvez de malária, HIV-SIDA, Sabe-se lá… As flores que nunca murcham nem sempre estão belas e perfumadas.

Como toda boa moeda, os mufanas do meu país também tem uma face que clama por ajuda e amor que não lhes foi negado… Novos tempos, novos horizontes onde o sol continua brilhando alto iluminado e florindo corações.

Quem pode faz o seu bocado para devolver o perfume a estas flores que nunca murcham; são insuficientes mas incontáveis os centros de acolhimentos aos orfãos das enfermidades do mundo, as dos cofres que embora fazendo eco de desrecheio, não se fazem tímidos aos pedidos por uma mão amiga.

São projectos como o “Aldeia de Chipaca” e outros mais que garantem aos mufanas do meu pais segurança de sonhar com um amanhã mais florido.

GLOSSÁRIO:Mufana – Menino, Criança, Mirone
Xilunguíne – Cidade de Cimento, Onde Habita o Branco
As Flores que Nunca Murcham – Nome atribuído por Samora Machel a organização “Continuadores da Revolução”

sábado, 2 de maio de 2009

Plantar gasolina e morrer a fome



Para desenvolver, é inevitável a Moçambique explorar os recursos naturais. Mas se o lucro fica em mãos erradas, de que jeito seremos ’sustentáveis’?
Com a evolução das sociedades de consumo, crescem também as necessidades de ampliação dos rendimentos agrícolas e outras fontes de alimentação…

O povo continua a milenar tradição das queimadas dos solos para desbravamento das florestas para o cultivo. Com esta atitude, a fauna local fica comprometida, que por sua vez também afecta o homem.

Nestas andanças das queimadas, são destruídos em Moçambique cerca de 219 mil hectares de florestas ao ano, o que equivale a 405.500 campos de futebol.

Esta autodestruição não passou despercebida aos políticos, que já um adotaram o slogan para combate a efermidade; “Não às queimadas descontroladas, reduza a pobreza”. Se para além do slogan existe alguma campanha não sei dizer, mas o slogan já esta fazendo manchetes nos jornais.
Os animais e o Homem lutam pelo mesmo pedaço de chão, sendo o animal dizimado.

As florestas são mutiladas. Moçambique é um grande exportador de madeira preciosa para o mundo. Para o maior comprador de matéria prima do mundo, isso é muito bom.

Através de comerciantes menos escrupulosos, são pilhados em forma de exportação, milhares de torros de madeira com o consentimento e conivência das autoridades.

O governo tenta promover o turismo… Vai tentando… Que de certa forma consegue atrair mergulhadores que destróem os nossos ricos corais.

Vão construindo casas, hotéis e resorts nas praias sem obedecer as regras básicas de protecção costeira, hoje as praias vão se perdendo ao mar. A orla marítima, abandonada a sua sorte, vai se desmoronando como um castelo de cartas levado pela erosão. Belas praias acabam desaparecendo deste modo a olhos vistos. Todo o mundo lamenta mas nada se faz.

Grandes fábricas são montadas para criar empregos, gerar impostos… E também para agredir o meio ambiente com sua fumaça tóxica.

Quando o preço do barril de petróleo disparou como um foguete, o mundo começou a levar a sério a ideia de combustíveis alternativos. Moçambique também não ficou atrás. Vastos hectares de terra foram cedidos para a o projeto de biocombustíveis. A população planta “gasolina e morre a fome”. É certo que temos de diminuir a dependência da energia fóssil. Mas nós exportamos carvão mineral em Tete através do projeto da Vale; prospecções de petróleo se desenvolvem no norte do país. Mais poluição… necessária!?…

O país necessita de fontes de energía sustentável, precisa gerar divisas, precisa sobreviver. Mas nesta situação, como ser sustentável, agir de maneira saudável e sem agredir o ecossistema?

sábado, 25 de abril de 2009

Narcofashion do Brasil




Narcofashion é uma palavra que me ocorreu enquanto me lembrava de varios episódios de conterraneos meus que foram ilubriados pela maravilha que o Brasil tem para oferecer, cortesia da Rede Record e Globo. A realidade do lobo coberto com a pele do cordeiro… Já ouviu falar?

Já maningue tempo atrás, o povo recebe o Brasil em seus lares através das maravilhosas telenovelas. Assistimos aos episódios com atenção de quem gostaria de lá estar… Pessoalmente, eu prefiro o Carnaval.

As garotas vasculham as botiques (a oferta é enorme) em busca de modelitos semelhantes aos das atrizes, invadem os salões de cabeleireiro cozendo e colando (já ninguém quer só pentear) as extensões capilares… O Brasil virou moda.

De entre as mocinhas, que pode e até quem não pode, vão ao Brasil comprar roupa para revenda. Muitas embarcam já com encomenda e compra garantida. Como funciona a coisa por lá não sei dizer, mas que regressam com malas do tamanho do boing isso é quase real.

Com este andar ou voar, vao fornecendo as muitas botiques de grife brasileira, e ate as lojas ganham nomes de novelas.

O outro lado da moeda
É sabido que como muitos outros países, o Brasil trava uma luta desenfreada como o tráfico de droga.É sabido que Moçambique tem sido usado como corredor para o haxixe do Paquistão, Afeganistão e outros stãos…

É sabido que Moçambique virou um El Dourado para “refugiados” africanos e até europeus.Principalmente no Centro e Norte do país, há muita mocinha é-lhes oferecido o sonho de uma viagem a terra do Roberto Carlos para um semanita de shopping desenfreado com tudo pago. Até parece a lotaria.

Pobres coitadas, na maior inocência da oferta feita pelo “namorado”, “patrão” ou sei lá quem que-o-diabo-o-carregue-o-mais-rápido-possível, armadas de sorriso de orelha a orelha, finalmente voam para o grande Brasil.

Alguns dos esquemas das “mulas” já são conhecidos pelas autoridades, sendo que sempre que vem um voo proveniente de Brasil ou Portugal, são accionados os mecanismos para a prienção de possiveis transportadores.

São muitas as artimanhas usadas pelos mandantes que muitas das vezes são emigrantes Nigerianos, Marroquinos, Quenianos, Zimbabweanos e até os locais… Existem casos documentados de indivíduos que expeditaram suas “namoradas” deste modo para alimentar sua ambição desmedida em troca da liberdade alheia.

Mas nem todos os casos de jovens que viajam ao Brasil terminam em xadrez, muita moça alimenta um negócio lícito de venda de roupa sem incrementar a renda com estupefeciantes. Vão levando a vida no vai-vem, ao regresso, contando as muitas aventuras, alimentando sonhos de quem ainda não lá foi.

Do Brasil já não só herdamos a capoeira, a moda e a alegria, hoje já não è estranho ouvir-se dizer que fulana e ciclano deram dentro… Escuso-me a perguntar os porquês, cada vez que se me atiram com essa porcaria para dentro dos meus ouvidos. Só pode ser o efeito do narcofashion made-in-brasil.

VOCABULÁRIO
Narcofashion – palavra não “dicionarizada”, que provém da junção do narcótico e fashion, que são os maiores atraentes de jovens Moçambicanos ao Brasil.

Deram Dentro – Terminologia popular para dizer que tá lixado… Opps! Está preso.Mula – Pessoa que transporta a droga ingerindo pequenas bolas de camisinha contendo droga, ou escondida na bagagem.

terça-feira, 21 de abril de 2009

BP embaixo, Mabor em cima, você sabe o que é?


Quando o trabalho da policia não se faz sentir o suficiente nas periferias da cidade, o povo chama a si a responsabilidade de fazer “justice” pelas próprias mãos

Justiça alheia ao Estado termina com a dor quente da borracha em chamas
Todos os dias são reportados casos de crimes de furto a agressões e a policia com todo o despreparo e carência logística não consegue fazer face à epidemia. Chega uma altura em que o povo satura e rebenta…

Ladrão. Ladrão! – Alguém gritou. - Pega o gajo, vai a correr! Na calada da noite ou no auge do sol , era usual ouvir-se estes gritos que muitas das vezes vinha acompanhado de um outro chamado… Já tenho o pneu alguém traga a gasolina!

É o fenômeno do “BP em cima e Mabor em baixo”.

Cinlindra-se o individuo no meio do pneu e joga-se a gasolina por cima e ateia-se fogo. O sacrificado berra, esperneia e morre torrado no meio das labaredas do pneu, que se recusa a terminar de arder.

Na mente popular, a “justice” foi feita.
A policia chega quase sempre depois do consumado, sem chances nem condições de socorrer o tostado. Às vezes faz-se algumas prisões, mas muitas das vezes ninguém reivindica nem aponta autoria.

A igreja chora por clemência, parte do povo faz coro, os políticos fazem silêncio, não sabendo se usam o malfadado acontecimento para fazer campanha ou não, os intelectuais debatem o fenômeno, tentam chegar à raiz da equação… São inúmeros os resultados. Continuamos a debater, aguardar e tostando.

Às vezes o nível da malandragem baixa e o povo credencia ao sistema do “BP em Cima e Mabor em Baixo”. Embora a fórmula não tenha nenhuma autenticidade, parece intimidar uns e emprestar valentia a outros.

Quem pode reza pelas almas daqueles que não puderam escapar a fúria popular, que com certeza foram-se alguns inocentes também, e enquanto estiver com o espírito embrenhado de santidade, sem querer abusar dos santos, reza também para que a policia ganhe reforço logístico.

Glossário
BP – British Petroleum
Mabor – Marca de pneu made-in-moçambique
Cinlindra-se – o sujeito “cinlindra-se”, ou ganha forma cilíndrica, quando é colocado no meio do pneu.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Falar landím é maningue nice.

Moçambique é um país “maningue” grande. Tem uma diversidade cultural “maningue” rica do Rovuma ao Maputo, e com isso também diversos idiomas.

Aquando da colonialização Portuguesa, usou-se a língua de camões como veículo de comunicação. Os assimilados e os indígenas foram educados assim. Os missionários se encarregaram de espalhar a boa nova pelo país, em Português naturalmente...
Com a independência, o “mulungo” foi-se e o governo decretou a continuidade da língua portuguesa como idioma oficial de Moçambique.

Mas ainda nos debelando-nos com a questão da identidade nacional.
Resultante da migração pós-independência do campo para os “Xilunguines”, mesmo em português tornava-se difícil o “bula-bula” fora dos gabinetes. “Ka doropene” em Maputo, Havia muita predominancia de dialectos oriúndos das outras províncias.

Dada a essa exposição, os “mufanas” foram aprendendo os diversos dialectos com a maior predominância para o shangana (oriundo da provícia de Gaza). Ai do “mufana” que fosse ouvido a falar a dialeto, apanhava uns tabefes para aprender que só se fala português, se não quiser fazer feio na escola!

Mas ninguém pode cobrir o sol com a peneira, o dialeto estava enrraizado no nosso cotidiano e crescemos aprendendo, e até falando as escondidads com outros meninos.
Os jovens cresceram achando tabu falar landím (como diziam), socialmente era inadmissível, somente havia que se dessenrrascar se fosse do interesse próprio interlucutar com um “madala” ou campezino que não soubesse português fluente.

Os tempos mudaram, a revolução triunfou. O Português continua a ser oficial, mas existe a opão de engajar em comunicação noutra língua sem que o receptor se ofenda. Basta que haja aptidão.
A nova geração de músicos canta em “landím”, incorporamos palavras do “landím’ no português corrente (ainda nao representadas em dicionário próprio).

Andamos pelas avenidas, centros comerciais, convívos sociais e falamos landím com o orgulho de sermos Moçambicanos. Aqueles recém emigrados da europa e asia tratam de aprender o landím bàsico ao mesmo tempo que aprendem a língua do “tuga”. Para trás ficam aqueles que não tiveram a audácia de aprender a falar landím.

Hoje é chic falar landím... Khanimambo pelo seu tempo a lêr este artigo.


GLOSSÁRIO SHANGANE/PORTUGUÊS
Landím – Dialecto local
Maningue – muito(a)
Mulungo – Branco, Patrão, Chefe
Xilunguíne – Cidade, Sítio do Branco
Bula Bula – Falar, Conversar
Ka Doropene – Na Cidade
Mufana – Rapaz, Criança
Tuga – Português, Portugal
Khanimambo – Obrigado
Maningue nice – Muito bom

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Catorzinha.


Catorzinha. Gramaticalmente não existe.

Para Moçambique e todos os outros destinos dos exploradores Portugueses, a lingua Portugesa veio de barco. Daques que dependem do “fufutar” do vento para seguir em frente.
Mas em moçambique existe essa e muitas outras expressões que não vieram no porão dessas naus.

Catorzinha! É uma terminologia popular para denominar as garotas de fase etéria púber que se entregam aos desejos de luxúria pecaminosa de alguns “titíos”. Disfarçados de bons samaritanos que levam as “crianças” a passear, tomar um sorvete... Presenteam as “sobrinhas” com celulares, “txuna-babys”, e recargas para o móvel. É tudo artimanha dos safados para cumprirem à letra o ditado que diz boi velho come capim novo.

Os titíos, senhores de meia idade as vezes até mais para lá que com toda legitimidade pode-se chamarde “vô”, normalmente são chefes de família com filhos e netos na mesma faixa etária.

Desfilam pelos centros comerciais para que a menina possa escolher uma pecinha de roupa, pela orla marítima na praia como quem aprecia o pôr do sol, que na verdade o malandro só esta fazendo tempo para colher a recompensa do investimento.

As catorzinhas, na sua impávida teimosia em acatar os conselhos dos outros mais velhos, misturada a inocência e outros advérbios, colaboram animosamente com uma cumplicidade atónita. Afinal ganham presentes né?

Muitas desses parvinhas, tem a sua turminha de amizades, que por vezes engloba os próprios filhos do “lobo mau”, mas que mesmo assim os intentos macabros são genialmente encobertos.
Pobres dos namoradinhos, tão jovens que são ainda, não têm o poder de compra para presentear as suas pitinhas com fashion ou recargas para o celular, quando muito podem baixar mp3 ou toques de celular na internet de casa que o papai paga.

O descaramento de alguns titíos é de tal maneira grotesco que se fazem às discotecas “grifados” mesmo à titío na companhia dessas meninas. Mea culpa! Regra geral esta incursão é fruto da insistência da mirone.

Ir a disco de carro “próprio” (afinal pom-pom do meu damo também é meu, ya?), patrocinador do ingresso, (assim como elas os catalogam), bebidas (nestes casos até “experimentam” um pouco de bebida de adulto), e garantia de boleia de regresso à casa. Para o “bicho-papão, isso tudo faz parte do processo para chegar aos finais. Antes de deixar a menina a porta da casa da amiga (...aqueles fins de semana em casa da amiga...) fazem-se a milhões de sítios onde se fecha os olhos a indecências e crimes ediondos como este por um trocado. Acontece, muito rapidinho, uma rapidinha! Por hoje a sede de luxúria foi satisfeita.

As andorinhas já saturam o céu, os primeiros autocarros públicos já se fizeram a estrada, são cinco da manhã e enfrentar a “patrõa” em casa hoje não é necássario.
A sexta-feira é dia do homem, saimos para desbundar...


GLOSSARIO
Fufutar – Soprar

Saiba mais sobre as Catorzinhas.
Música do Moçambicano
Denny OG - Catorzinha
“Durmo com mais velhos, jovens, qualquer um vai, mas não gosto deles.”
"My boyfriend is 42, but a younger man my age wouldn't give me what he does and I need these things to live,"

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

O corredor da morte



Para quem lê o título deste artigo, fica logo sobreavisado sobre a natureza do texto. Não tenho como evitar, não tem outro pseudónimo para descrever o que se passa na província de Tete em Moçambique. Vou vos situar.

Tete e uma província que fica no norweste do país, faz fronteira com o Maláwi e Zimbàbwe. Ela é rica em carvão natural de Moatize, é cruzada pelo rio Zambeze que onde se situa a barragem hidroelétrica de Cahora Bassa, a 6ª maior do mundo. Está neste momento a desenvolver-se o progeto do Vale do Rio Doce, onde foram injectados milhões de dolares americanos em consórcios de mega-empresas multinacionais. Apesar destes e outros investimentos, a população local sabe tudo sobre a pobreza absoluta no verdadeiro sentido da palavra. A cidade esta decadente, não exite emprego, no campo as culturas são maioritariamente artesanais. Nas vilas não existe banco, os serviços administrativos são rudimentares e arcáicos. O Povo vive “ao Deus dará”.

No seio de tanta pobreza, de entre aqueles que conseguem cultivar a terra, deparam-se com o problema de escoamento da produção agrícola. Os produtos acabam apodrecendo e alimentando as pragas. Uns atravessavam a fronteira (não demarcada) para o vizinho Zimbàbwe onde vendiam o que podia na moeda local e ao câmbio do vigário.

Do Zimbàbwe, é a rota dos camioneiros para o resto da Africa. A fronteira com o Zibabwe é a porta de entrada e saída de todo o género de produtos. Muitos dos camioneiros que usam esse tragecto, estão longos dias na estrada longe de suas famílias, e ao chegar à vila, finalmente podem descansar, reagrupar as energías para seguir caminho. Isto é normal. Mas ha outros que não resistem ao chamado da carne e a luxúria e gastam ainda mais as energías e o dinheiro com as muitas meninas de todas as idades que alugam seus corpos para prazer alheio pelo sonho de um dia também seguir viagem num desses camiões para longe daquela pobreza. Enquanto isso vão faturando o suficiente para mais um prato de comida e a vida (ou morte) acontece.

Só que como “quem anda a chuva é para se molhar”, nessa comunidade de camioneiros, existe uma grande prevalência de HIV/SIDA devido ao estilo de vida pecaminoso instituido.

Com a flexibilidade típica de todas as negociatas, aqui existe a opção de se luxuriar com ou sem camisinha, dependendo do preço. Para muito homens, sexo com jeito é como comer banana com casca, não sentem o prazer da carne na carne; e nestas horas, filho bastardo é o mínimo das consequências.

O slogan do partido no poder (FRELIMO) promete “o futuro melhor” , só que para muitas dessas meninas, o futuro ainda dista bastante ou está atrasado.

Com a infeliz situação do Zimbàbwe (Inflação de 231.000.000%), todos quanto puderam, refugiaram-se nos países vizinhos de entre eles Moçambique. Pessoas de todos os níveis académicos e sociais, encontram-se hoje numa situação de pedendência total alheia para sobreviver. Houve muitos casos de mulheres da classe média que trabalhavam como secretárias em grandes escritrios, estão se dessenrascando como prostitutas para poder alimentar os filhos ainda pequenos. A polícia prende-as por prostituição, por não estarem documentadas, tudo isso quando não pedem tambem “um pouco de cheirinho.”

Quem cultiva a terra continua sem ter onde vender seus produtos.
Com a eterna teimosia de jumento do Robert Mugabe em conceder a “César o que é de César” a situação no vale do Zambeze não vai melhorar tão já para o povo refugiado e nem para os anfitriões.

Os camiões continuam a cruzar a estrada, muitos só no sentido de ir, onde levam os bem preciosos, alimentos e combustíveis de que perecem os Zimbabweanos. O vir, é aquela desgraça...
Deste lado estagnado no tempo, a miséria já esta implantada faz muito tempo, e com os hóspedes, só veio a piorar, e esse futuro melhor que recusa-se a chegar. Talvez nas promessas da próxima campanha eleitoral.
Como disse, o corredor da morte não acontece mais nada para elém de se morrer ou esperar para morrer.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

O mercado do peixe.


Falar do Mercado do peixe do Maputo, é tanto quanto melandrámatico. Tem muito que se diga em relação... O mercado do peixe é um sitio como o nome diz, mercado de peixe, onde se vende peixe e outros tantos frutos do mar. Poderia até ser um local como qualquer um onde transanta a peixe, e cheio de mamanas peixeiras, mas não o é.

Na marginal, junto ao Clube Marítimo, existe um sítio sem finesse nem requinte algum, onde o chão é chão de areia, coberto de muitas pequenas bancas cheias de Camarões enormes que se confundem com as lagostas ao lado, mexilhões, lulas, ameijoas, peixe de todo tipo e tamanho, carangueijos monstruosos... tudo fresquinho, outros ainda vivos.
Para além das muitas bancas feitas de pau, existe outro elemento que transforma no mercado em um lugar de mensão.
A volta do mercado, existem em igual quantidades as bancas, barracas-restaurantes onde se confecciona os mariscos adequiridos na hora.

As barracas devido ao espaço exímio, são todas pequenas cada uma colorida retratando belas imagens dignas de pertencer a uma “oleo sobre tela” penduranda numa exposição qualquer. O cliente escolhe o producto de sua cobiça nas bancas, e escolhe a barraca que melhor que aprevier, aqueles que são assíduos já sabem para onde se dirigirem, na “tia Alice ou tia Maria” Tanto faz, o serviço e sempre de primeira.. A titia confecciona o seu produto do geito que lhe for recomendado, enquanto isso o cliente senta-se refastelado à sombra de um enorme “canhueiro” existente no centro do mercado jorrando goela abaixo cervejas “2m” ou “Laurentinas” geladinhas.

As titias do mercado do peixe são rapidas a grelhar, pois o carvão está sempre acesso. Neste compasso de espera que não é muito, o tempo parece não passar, o ar encontra-se impregnado do aroma do peixe, camarão, etc... impossível resistir...
Quando as travesas cheirosas e fumegantes finalmente chegam a mesa, pode ter a certeza que já estará gente a babar-se de apetite. Ali, ninguém quer saber de mais nada nem ninguém, fica-se mesmo à vontade para comer como lhe ditar o apetite, a talher, com as mãos e até lamber os dedos se assim o preferir. As refeições são servidas com saladas, pão fresco, e tudo o mais que pode encontrar num restaurante convencional.
Devido ao calor tropical, ali naquele mar de mesas e cadeiras plásticas a sombra do “canhueiro”, é permitido tirar a camisa e enterrar os pes descalços na areia da praia.

No mercado do peixe, tem sempre movimento, mas é aos fins de semana que todo o mundo acaba lá; que apesar da não existência de luxo algum, estão lá com mesa marcada e tudo o que os assíduos tem direiro, directores de grandes empresas, alguns ministros, muito turista, e o zé povo que também tem barriga.

Apos encher o pandulho, entulhado de coisas que só no mercado do peixe se comem, muitos já não se enteressam pela pança gordurenta que teima em espreitar entre as casas dos botões da camisa, outros ainda param nas imediações do mercado para comprar cd’s piratas de música local, filmes “blockbusts” de Hollywood também piratas, peças de batik, escultura de madeira ou mesmo para comprar castanha de cajú...
Mas não se vá embora sem presentear ao mirone que esteve a velar pelo seu carro com uma moedinha, e se não for abusar demais, até pode dizer “kha-ni-man-bo” (obrigado)

Acredite, manjar em restaurantes todos nós já o fizemos, mas no mercado do peixe? É uma experiência ímpar.

Imagens de Mocambique.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Sobre a nossa música.

MC Roger, um dos principais impulsionadores da nova geração de músicos.
No tema Moçambique marrabenta, apresenta-nos a fusão da marrabenta e o HipHop. Veja aqui.

Sempre existiu música digna de ser gravada.
Sempre houve bandas que tocavam tão bem como todas as outras que vem de fora.
No entanto, existiu em tempos um certo preconceito em relação a música moçambicana.
Nós moçambicanos fomos os primeiros a preferir a música que vinha de fora em deterimento da nossa. Mas isso explica-se.

No período pré-independência politica, existiam varias frentes musicais, a musica da elíte orquestrada e consumida pelos portugueses e assimilados.


Existia a musica de bairro tocada e consumida pelo povo dos arredores e alguns assimilados (embora as escondidas) e a musica tradicional que era marginalizada pelas duas classes, mas amplamente ramificadas na cultura dos povos campezinos.

É claro que para os estudios de gravaço somente entravam os conjuntos da elite (brancos e alguns assimilados), relegando a musica de bairro, aquilo que hoje chamamos de música popular para se desenrrascar, enquanto que os campezinos? Nem pensar!

Em 1975 veio a independência, a elite desapareceu deixando ficar para trás um vacuum cultural que foi (tentaram) preencher pelos artistas populares que pereciam de todas e mais alguma efermidade de logística. A politica do novo governo incentivou o fluxo migratório do campo para a cidade de pedra para se usufruir dos “direitos conquistados da revolução”…

Neste processo, a música popular que tinha toda a fragilidade da época, fundiu-se com os ritmos tradicionais trazidos pelos campezinos, sem que houvesse uma padronização ou sistematização. Foi um fenómeno típico do ambiente politico-social que se vivia na época. A música sofreu uma revolução negativa, perdendo parte da sua identidade e com ela também alguma qualidade.

Muitos músicos fizeram-se ao palco e aos estúdios da RM radio moçambique (estatal) que apesar da qualidade não dignificar, sempre houve plateia. O povo não estava musicalmente educado (já se chamava de música ligeira).

Dos músicos que já andavam a fazer música dos bairros (de onde originou a marrabenta) alguns conseguiram se destacar e vendiam shows com maior frequência como o caso do Wazimbo, João Wate, Fany Mfumo, Ghorowane e outros.

Ao mesmo tempo que se desenrrolava esta revolução, o mercado se abastava de hits importados das editoras como a Motown (Michael Jackson, Lionel Richie, Donna Summer…) da europa vinha os ABBA, do Brasil chovia Roberto e Erasmo Carlos, Arginaldo Silva, Trio Esperanca, etc, enquanto que da vizinha Àfrica do Sul chegavam Miriam Makeba, Black Mambazo, Steve Kekana, etc.

Escute aqui mais alguns temas originarios dos bairros.
Conjunto Joao Domingos – Mawaku
Conjunto Joao Domingos – Elisa Gomara Saia (Medley)” Este tema é um dos clássicos da marrabenta.
Fany Mfumo – Gorogina wa ka Mamba
Fany Mfumo – Famba na Hombe
Orquetra Djambo – Elisa Gomara Saia
Orquetra Djambo – Laurinda
Grupo Bayette – Georgina (Remix)

Neste desenrolar de eventos, o tempo passou e a nossa geração de moçambicanos consciencializou-se do património que herdou, aliado a anos de edução musical absorvida dos quadrantes deste globo; hoje produzimos músicos que exportam mensagens de paz e amor pelo mundo todo, orquestrando as mais belas melodías, como o caso de Stewart Sukuma, Neyma, Wazimbo, Eyuphuro, Jimmy Dludlu, Gito Baloi, André Cabaço, MC Roger, Moreira Chonguiça (SAMA AWARDS), Lizha James (duas vezes vencedora do Prémio Melhor Vídeo 2007/8 do Channel O) e Dama do Bling (Prémio Melhor Revelação 2007 do Channel O), Kapa Dech (Prémio Crossroads 2006), Timbila Muzimba (Prémio Crossroads), Roberto Isaías (Prémio Ngoma) de entre outros.

Hoje o ambiente cultural que vivemos, foi propício a embrionamento de mais um ritmo nacional. Da fusão marrabenta que representa a nosso identidade musical ao HipHop Americano, mexemos o corpo dancando ao ritmo do Pandza. É um ritmo dançante que contagia a qualquer um.

Neste video do Dj Ardiles ft 3H, confira o Pandza. Calibre 39.

Informacao sobre marrabenta.
Informacao sobre a musica de mocambique.
Hugh Tracey, Pesquisador de musica africana.

Provações e penitências de um povo.



O meu povo já sofreu muitas provações e penitências e sempre foi muitíssimo bem sucedido.
Desde os primórdios do tempo cronometrado, sempre fomos um povo maningue nice.
Vieram os navegadores árabes com suas missangas, panos e bugigangas em troca do ouro, cobre, marfim e demais… Com muito gosto e até honra nós fizemos as trocas.


Vasco da Gama também ancorou em nossa casa; nós sorrindo e cantando boas vindas abrimos as portas. O camarada ficou tão satisfeito que apelidou a minha casa de terra da boa gente depois de ter enchido os porões de mantimentos e sei la que mais.

Na convenção da partilha de África coube-nos o destino de sermos uma fatia do bolo português. Imagino como seria se o raio da fatia tivesse caido no prato alemão ou inglês. Imagino mesmo.
O ouro de que todo o mundo anda atrás existe na minha terra. Mas não tanto como na terra dos Zulus. E é lá que o meu povo anda desde me recordo por gente. Como topeiras, embrenhando-se pelo ventre da terra cavando trincheiras e túneis procurando a pedra amarela. Gerações e gerações de gente minha enchendo o bolço e o ego do patrão estrangeiro em troca de um mísero salário e saúde.

Nas plantações, mulheres e crianças labutam de sol a sol plantando e colhendo para entulhar a despensa das madames em troca da entoxicação das pesticidas e o mesmo maldito mísero sálario.

Sofremos em solo próprio o efeito da extenção do braço manipulador e racista de um estado minoritário que com muita eficiência criou desestabilização na região.
Juntos choramos a prisão e a liberdade de Mandela.
Mano a mano, palmo a palmo, suor a suor, ombro a ombro contruimos a terra que vai juntar África na festa da bola em 2010.

Mas… Os acontecimentos recentes me puseram com um nó no coração.
Até aquele dia fatídico, não sabia que havia divisionismo entre nós. Em nome da xenofobía, meu povo foi caçado como animal, violentado, desalojado, despojado de seus ricos poucos haveres; pior que um animal, foi queimado vivo.

Pagamos pelo pecado de ser Moçambicanos na terra dos outros.
Ponham os panos quentes em cima, da côr que quiserem, o mal esta feito, o coração sagra de dôr.
De irmão para irmão, como fomos baixar assim tanto?

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

O povo amarelo


por Celso Amade
celsoamade@hotmail.com

Chinoca para aqui, chinoca para ali. Até tinha a sua graça. Foi assim que eu cresci. Falávamos dos chinas como um povo muito distante de outro mundo.

Em Moçambique também tem chinocas que já lá estão há muitas décadas; são chinocas de muitas geraçëes, que já são nacionais no seu pleno direito, como eu.
Chegou o seculo XXI e tudo mudou.


Andavam todos com o medo do fim do mundo assim que chegasse o ano 2000. Nada aconteceu para além de abarrotarem as igrejas. O padre adorou ver seu rebanho completo de mala e cunha, fosse a eventualidade do Senhor chamar já, já.

Bill Gates e a Microsoft também participaram na entrada do milênio em estilo próprio. “Há que precaver do síndrome de Y2K. Rios de dinheiro foram gastos actualizando o relógio do computador, caso contrário não estaríamos compatíveis com o novo milênio.
Já não é o exercito vermelho que saiu em força, mas sim o povo amarelo que emigrou em força retornando a proveniência. África, o berço da humanidade.

Característico dos manda chuvas chineses, as suas medidas são sempre drásticas. Um quinto da população mundial e chinesa vivendo na China, os chinocas emigrados antes não contam, já estão contabilizados nos sensos populacionais de cada pais acolhedor.

Medida drástica; a casa de Ho Chi Min estava rebentando pelas costuras, já não cabia lá mais ninguém, então decretou-se a lei de filho único para cada casal (se isso não resultasse talvez mandariam os lutadores sumos emagrecerem para poder caber la).

Nos cá continuamos a fazer sete, oito filhos para inveja dos manos chinos.

Primeiros chinocas em Maputo datam de 1975
Medida drástica; já não somos socialistas comunistas, agora somos capitalistas. Os maninhos chinocas já não procuram pelo vermelho, agora procuram o verde do dólar.

Medida drástica; onde até bem pouco tempo aterrorizava-me a idéia da grande muralha que mantinha o estrangeiro do lado de fora e também os chinos do lado de dentro,
Admirou-me ver os jogos olímpicos. Multidões de estrangeiros do outro lado do muro.

Na minha terra, o chinocas estão se tornando nacionais outra vez. Constróem obras de engenharia, enchem o mercado de bugigangas de segunda categoria, vendem roupa e calçado ao preço de água (água não, que tá se tornando cara, talvez dizer preço do ar, já que esta poluído mesmo), E eu choro com isso.

Problema drástico; as nossas fábricas de calçado faliram, as fábricas de vestuário faliram, os empreiteiros locais faliram… o povo está desempregado, com salários em atraso para receber e contas por pagar.

Afinal de contas quem paga quem? Os maninhos chinocas (baixinhos como são até fica mal dizer mano-velho). O governo faz vistas grossas ou não se percebeu da espada de dois cumes que os chinos ofereceram? Serão propinas?
Onde vai parar a revolução amarela?
Mais não disse, mas estou preocupado.

O mendigo

Mendigo numa esquina de Johannesburg na Africa do Sul

por Celso Amade
celsoamade@opatifundio.com
Em Johannesburgo , na África do Sul, assim como em muitas grandes cidades do mundo, existe umacondição social a qual chamamos de mendigo.
Sendo africano e estando em África, e normal ver-se mendigos andando nas ruas, parados nos entroncamentos e até batendo nas portas da gente para pedir um pedaço de pão.

Em 1995, veio o fim do sistema segregativo racial “Apartheid”, onde, como resultado, o mundo viu eleger o primeiro presidente negro na África do Sul independente.

Com isso, vieram muitas mudanças politico-sociais que arrastaram consigo reformas económicas.

Na nova república, como que se de marte tivesse acabado de chegar, deparo-me com gente de todas as idades nos semáforos, entrocamentos, carregando places e gritando por Socorro, “NAO TENHO COMIDA NEM ROUPA, TENHO 4 FILHOS PARA CRIAR. QUE DEUS O ABENCOE. OBRIGADO”. As placas diferem uma da outra, mas o contexto é semelhante.

Aquele cenário desconcertante me chocava sempre que tivesse que cruzar a avenida, não pela cor da pele do pedinte, mas pela ironia da vida.

Antes do término do Apartheid, a situação era inversa, com a agravante de que somente a minoria branca era contemplada pelo governo - tinham todos os direitos sociais como o subsidio de desemprego, habitação, preferência nos postes de trabalho, direitos de uso de casas comerciais etc.

Hoje, a realidade é bem diferente, a igualidade de direitos entre as diferentes etnias que compõem a Africa do Sul, criou uma plataforma onde vinga quem estiver melhor preparado para coexistir num estado de direito.

Moçambique fashion mania


Tradicionalmente usamos muito pano para nos vestirmos. É a nossa tradição. As mamanas cobrem-se com belas capulanas, generosamente coloridas com flores de nome que só se conhece no dialeto nativo. Já que moda é moda, quando chegam as eleições, cobrem-se de capulanas com a fucinheira de um dirigente qualquer à caça do voto.

Vem a televisão e as revistas. As modas são importadas, não importa como.

De entre vários modelitos de “boutique” salientaram-se alguns dignos de referência. As saias “matarlatanta.” é um deles. Não conheço a proveniência do nome, não ficou-me na memória. Para quem não consegue pronunciar o nome ou acha ele menos elegante, pode-se dizer “mil-saias”, porque usa-se maningue pano pra caramba. Tinham uma infinidade de folhos como se tivesse vestido as tais “mil-saias”.

Eram bem decentes, a minha avó gostava de ver as meninas de matarlatanta.
Como tudo que é bom acaba cedo, as saias passaram a ser saiotas. Continuavam com a infinidade de folhos mas ficaram mais arejáveis, bem curtas.

Não me perguntem sobre a sua origem, verdade é que as mocinhas começaram a andar de colants ou colantes (a terminologia hoje não vem ao acaso). De todas as cores e rendadas, usavam aquilo bem justo como se de luvas para pernas se travasse com uma camisete por cima. Tavam no pico da moda prontas para o baile. Os rapagões adoravam, ficava tudo mais bem distinguido. Mas não durou muito não, havia muito homem bem sensível nas ruas para permitir tamanha “imoralidade”.

Não muito tempo atrás, as novelas brasileiras trouxeram-nos as “txuna-babys”. Lindas peças de pano. São calças de jeans de variados feitios, boca de sino, funil… com a porcaria da cintura pela virilha. Chato para quem não tivesse tido o cuidado de passar uma lâmina antes, ficamos expostos ao crime de atentado ao pudor. O umbigo e a cintura das txuna-babys polpou o designer de um bom pedaço de pano. Para mim o efeito é o mesmo que as colants, mas vivemos em tempos modernos, não?

As capulanas foram relegadas para as madalas.
Que se lixe a cultura, nós queremos é txunar. E a moda continua!

Taxi Colectivo

Táxi colectivo de Maputo, capital do Moçambique

Aquele espírito de desenrascar com os 16 anos de Guerra civil a que fomos impostos, foi imperativo que Moçambicanos se desdobrassem como se aranhas fossem para se fazerem transportar. Havia os TPU (transportes públicos urbanos), que se tornaram TPM (transportes públicos de Maputo). Os porquês disso não sei dizer, ainda era mufana demais para perceber estas manobras.

Um em cada dois foram ficando arquivados…O transporte coletivo que não chegava, agora minguava.

Não sei de quem foi a ideia ou se faturou, mas aquilo era coisa de primeiro mundo mesmo: Radio Táxi. O povo ligava para a central e um táxi de marca Lada, de cor amarela, buzinava lá fora à porta. As mamanas andavam em grande estilo. Aquilo era chique de doer, pena que foi sol de pouca dura.

O povo tomou iniciativa, as carrinhas Mitsubishi Canter, Peugeot, Toyota Hilux já não carregavam só mercadoria. O negócio melhorou, passaram a levar trabalhadores atrasados. Pelo menos já se chegava a algum lado, apesar do estado descarteirado, despenteado e catingado a que se sujeitava. Mas isso não era problema de mais… Afinal chegava-se.

Os acidentes multiplicavam-se maningue e as mortes desproporcionavam. O governo abriu um dos olhos, já não me recordo se o direito ou esquerdo, mas abriu e interviu. “Agora tem de se criar mecanismo de segurança para os passageiros!” - Disse. E o olho fechou novamente. Acho que é automático.

O povo gradeou a carroçaria e cobriu com lona. Já ninguém se molhava a chuva.As mamanas continuavam a carregar as galinhas e cabritos quando não fosse a colheita da machamba, sempre rota adentro.

Alguem viu oportunidade de negócio, talvez fosse monhé ou ministro. Sabem como é, os gajos tem faro pro negócio.Importaram forgunetas de marca Iveco sem janelas mas com bancos. Não dava pa reclamar muito, afinal o povo já chegava em relativo conforto no táxi amarelo. As ruas encheram-se de táxis amarelos. Alguém faturou maningue taco, mas não lhe disseram que poderia faturar ainda mais com reposição de peças. Tudo mingou como os TPM.

O modelo dos madjonidjonis funcionou aqui também. O povo mudou de meios, andava nos Toyota Hiaces de 16 lugares. Sei-o porque estava lá escrito, LOT.16 Lugares, embora possam imaginar a lotação; sem querer especular, acho que o cobrador não sabia contar, pois era frequente os passageiro ficarem de tal maneira apertados que metade do corpo sobrava pelas janelas. Esqueci-me de mencionar que o progresso trouxe janelas? Pois trouxe.

O povo continuava a chegar quando chegava. Aquela cultura de reposição de peças prevalecia.A situação estava igual a tudo nessa época. Os pneus rodavam mais carecas que o bolso do povo, as portas amarravam-se com pedaços de arame. Mas a situação não andava somente na pior, houve também progressos, continuava-se a levar as galinhas e os patos mas já não se levava cabritos.

Há um ditado que diz - “Lixo de uns, riqueza de outros”. Bendita evolução dos japoneses. A lei deles não permite que um veículo permaneça mas de 5 anos na estrada (acho que é isso); solução: exportar para africa. Com certeza os africanos saberão dar destino. E assim começaram a chover veículos de todo o tipo, standes de vendas de carros usados. Tudo made-in-japan. Verdade seja dita, dão um jeito daqueles, que África esta repleta.

Criou-se indústria, até assistência técnica veio do Japão. A roda esta rodar.
Hoje TPM acordou, já importou manchibombos de 64 lugares da China. Vão ser movidos a gaz de Pande, ouvi dizer. Mas já estão rosando as acácias nas avenidas.

Tudo nesta terra è relativo. Depende de que lado se está: do tripulante ou do passageiro. Vamos acompanhando o desenvolvimento dos táxis coletivos. As marcas e modelos mudaram com o tempo. No início pagava-se 100 paus, a gasolina mudou de preço, a moeda nacional mudou de cara. E é claro que o preço também mudou, hoje a tarifa custa cerca de 7 vezes mais, só o nome não mudou.
O táxi colectivo do povo continua a chamar-se chapa 100.
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Breves do português moçambicano:

MUFANA - Rapaz, menino
MAMANA - Mulher, Senhora
MANINGUE - Muito
MACHAMBA - Terra de Cultivo, Horta, Plantação
TACO - Dinheiro
GAJO - Fulano, Individuo
MADJONIDJONI - Proveniente da Africa do Sul
MACHIMBOMBO - Autocarro
PANDE - Jazigo de gaz Natural
PAUS - Dinheiro

Marrabenta


Marrabenta.
Já muito se falou sobre a marrabenta, mas não basta. Cada pais tem uma identidade cultural que é exibida além fronteiras. Nós temos a marrabenta
para ler ouvindo Hortêncio Langa - Majojo


Fanny Mfumo: conhecido como o rei da marrabenta
Só quem conhece realmente sabe do prazer e alegria que nos o espírito quando começam os primeiros acordes de uma marrabenta.

É característico aquele som da guitarra em mãos hábeis de dedos castigando as cordas. Foram vários os mestres da marrabenta, de entre eles, Fany Mfumo, Dilon Djindji, Xidiminguana (diminutivo de Domingos), João Domingos, etc… cada um tocando, cantando e encantando do seu jeito.

Dizem os mais sabidos que o nome marrabenta deriva do acto continuo de rebentar as cordas ao tocar que na época devido ao não existente poder financeiro, eram “desenrascadas com fio de nylon e arame. As guitarras eram fabricadas de lata e pedaços de madeira.

Mas não se deixe enganar pelo fabrico delas não, elas tocavam até que “marrabentavam” as cordas… Normalmente a marrabenta e dançada aos pares, podendo também dançar ímpar. As suas cantigas retratam o cotidiano social.A marrabenta tem um ritmo quente e acelerado, influenciado pelo “kwela” da África do Sul, pelo Swing e outros ritmos nativos da região.

É dito pelos mais sabidos que a “Maxixe” do Brasil teve a sua origem na marrabenta de Moçambique, no seu ritmo e espírito. Dai derivado o nome de Maxixe, que é uma localidade ao sul de Moçambique. Nos anos 80, após a independência de Moçambique (pelos vistos também cultural) a marrabenta ganhou outra dinâmica, surgindo mais executadores e também promotores que levaram a música pelos quadrantes deste globo.

Foram muitos os conjuntos ou artistas que dignificaram-nos pais a fora, tais como os Ghorwane, (www.ghorwane.com), Orquestra Marrabenta Star, que englobava vozes como Wazimbo, Mingas e Stewart Sukuma (www.myspace.com/stewartsukuma.com). Nos dias de hoje existem outros músicos que compõem a nova geração e continuam a imortalizar a marrabenta. São eles Neyma, Lizha James , dentre outros. Hoje, a marrabenta é dançada e cantada do Rovuma ao Maputo (norte ao sul), quebrou barreiras lingüísticas, culturais, tribais, regionais. Tornou-se abrangente, nacional.

O Sapo de mãos dadas

O camarada volta ao sofá.
Madame dá um jeito na louça e junta-se ao sofá.
Aí que a porca torce o rabo

por Celso Amade
celsoamade@opatifundio.com

Noticiário versus novela nos lares moçambicanos; eis a questão
Em muitos lares normais ou aparentemente normais como o seu, depois das 19 horas tem sempre um dilema conjugal dependendo do gênio dos integrantes…

O povo sabe como são essas coisas…

O camarada chega à casa do trabalho todo estafado, deixa-se cair no sofá, estica e cruza as pernas enquanto lê o jornal. A dona de casa já lá esta guiando o fogão, impregnando a casa com cheiro da janta. As deliciosidades são desmeigamente devoradas.

O camarada volta ao sofá. Madame dá um jeito na louça e junta-se ao sofá. Aí que a porca torce o rabo:

- Amor, põe a novela sim?
- hey pa! Estou vendo o noticiário né?
- Mas benzinho, agora ta passar aquela parte em que a mocinha beija o sapo e ele vira príncipe…
- Porra pa! Enquanto estiveres a ver o raio do bicho, pode estar a dar um golpe de estado la fora!!

E pega no remoto trocando de lugar para bem distante da esposa. Olhando-a com raiva fazendo ver que nesta capoeira só tem um galo.

Mas inteligente como todas as mulheres, melhor apelar para outra fome.

- Fofão, eu não te incomodo, deixo-te ver o noticiário como tu queres… mas… Mais logo, é bem possível que eu tenha dor de cabeça, ou esteja cansada, talvez até mesmo com muito sono.
O gajo abriu os olhos e encarou-a tentando verbalizar algum insulto, mas burro que não era, calou-se.
Nessa noite, de mãos dadas, o camarada assistiu a mocinha beijar o sapo que por sua vez se transformou em mocinho.
- Afinal de contas o golpe de estado não será aqui em casa né?

Quando o povo ganhou televisão



Onde não houvesse televisão, também não havia família completa; alguém estava sempre em falta, fazendo multidão em casa de outrem na companhia do prefeito que tinha medo de morrer ou do Dirceu Borboleta, Lá para os anos oitenta e tal, as noites tornaram-se mais interessantes em Maputo. TVE (televisão Experimental de Moçambique) presenteou-nos com a telenovela “O Bem Amado” de Jorge Amado. As dinâmicas das famílias mudaram completamente.

Os chefes de família, através do rádio Xirico (nem imaginam o lugar que este aparelho ocupava em muitos lares), acompanhavam o noticiário e a parada de sucessos musical em volume alto com a maior tranqüilidade. Era normal, mas o telejornal com Orlando Anselmo, Gloria Muianga e companhia era outra historia. Os gajos falavam bem pa caramba, sabiam preparar-nos para as peripécias do cangaceiro Zeca Diabo.

Naquela altura, televisão servia para assistir aos filmes de Clint Eastwood em cassetes betamax. Quem não tinha um aparelho de televisão tava tramado, com esta boa nova, tinha que imigrar para casa do vizinho ou parente, mesmo que distante. A entrada em casa alheia estava condicionada a chegar cedo, depois do jantar do anfitrião (olha que estes não se faziam rogados em desmontar cabeças de peixe ao jantar sentados no sofá) e antes do telejornal.

Pouco antes do termino do jornal, quem tivesse telefone (refiro-me ao aparelho fixo, daqueles iguais a todos os outros fornecidos pela empresa provedora do serviço telefônico, pois os celulares ainda estavam no esboço de algum gênio) com aquele tom de dono-da-casa-que -esta-abarrotada, mandava o mais novo por o telefone fora do gancho. “Estas não são horas de ser importunado!” Justificavam-se.

O facto de receber “visita” em casa, dava ao detentor do aparelho (o aparelho nem precisava ter remoto) um quê de estatuto… Onde não houvesse televisão, também não havia família completa; alguém estava sempre em falta, fazendo multidão em casa de outrem na companhia do prefeito que tinha medo de morrer ou do Dirceu Borboleta. Era normal na época.

A grande procura de aparelhos de televisão impulsionou a indústria local. Começaram a ser “fabricados” localmente com “tecnologia” nacional e acessórios Alemães. O povo comprava Inca! A jóia da evolução empreendedora nacional. Ao contrário dos aparelhos provenientes da África do sul, Portugal e sabes-se lá de onde mais, nos aparelhos Inca não era necessário chamar o técnico para instalar o conversor de som. Nos Inca made-in-moçambique, era só ligar a ficha para continuar a ver as novelas sucessivas. _________________________________________________________

Para entender melhor:

RADIO XIRICO - Antigo radio made-in-moçambique
ORLANDO ANSELMO - Apresentador de televisão
GLORIA MUIANGA - Apresentadora de televisão
CANGACEIRO - Bandido, fora da lei
ZECA DIABO - Personagem da novela
BETAMAX - Antigo formato de cassete vídeo
DIRCEU BORBOLETA - Personagem da novela
INCA - Marca de antigo televisor made-in-moçambique

Sexta-feira, dia do homem


Este facto é consumado; já não requer negociatas, nem invenção de desculpas esfarrapadas. José José quando sai do trabalho as 17 horas, sente-se um tanto quanto estranho de se sentir possuidor de tamanha preciosidade… Liberdade! “carta de Alvará!” A famosa licença para desbundar.

Ora bolas! estou aqui a falar de um tema tão rico e intrigante usando pseudônimos; José José; onde já se viu coisa assim?

Este e um sentimento legítimo na primeira pessoa, embora não tenho tido este privilégio faz já muito tempo [matéria para outras fábulas], ainda posso contar o que milhões de homens de H maiúsculo já sabem. Uns vivem a novela toda a sexta-feira, outros fingem conseguir materializar o sonho de todos alfa-machos.

Na quinta-feira à noite, enquanto faço a revisão mental das atividades do dia seguinte no escritório, deparo com a minha mente frívola de ansiedade percorrendo os planos pormenorizados da função pós 17 horas. Nem me lembro de ter revisto a reunião das 14 horas com a diretoría. Nada. Só 17 horas. Percorreu pelo meu corpo um sentimento forte, indescritível; senti um calor e sorri…

Amanhã é dia do galo. Bendito camarada que idealizou o dia do homem. O dia passa lento. Passo de camaleão coxo, mas acaba chegando às 17 horas. Quando eram ainda 16 horas, comecei a preparar-me, fui aos lavabos me refrescar, pentear, re-pentear, ajustar a calça, re-ajustar a coeca, limpar os sapatos, enfim, a lista do ritual de asseio torna-se infinita às sextas.

Para ter certeza de que não seria importunado no “meu dia” ligo para casa para jogar conversa fora, e como quem não quer nada, fazer-la saber de que a pilha do meu móvel não esta lá muito abastada de carga. Logo após, desligo o aparelho.Afinal hoje é sexta-feira, dia do homem, tá tudo liberado, é geral (como quem diz).

Para começar a gozar do “meu dia,” que afinal de contas já é noite, vou me encontrar com a malta no “pub” da baixa. Tomar umas e outras, por a fofoca em dia (afinal macho também tem “updates” para fazer, sobre as fesquinhas), mais logo quando já estiver no ponto, talvez uma volta para casa 2. Programa perfeito.Desço a avenida com um sorriso maroto, já a pensar nos desfrutes da carne.

Chegado ao bar, não esta la ninguém da malta. Talvez ainda seja sedo. Calmamente, sorvo uma taça e outra atrás da última. Não aparece João Paulo nem Paulo João. Ninguém. Espera ai; afinal eu tenho um celular nê? Poderia ligar para alguém. Mas seria arriscado demais, a minha primeira-dama poderia acesa-me nessa janela. Ainda me estraga o dia/noite.

Já que os gajos não dão as caras, talvez ganhe mais se for para casa 2. Lá as coisas com certeza são menos frustrantes. Acabo a taça depois da última e peço a “saideira”.

Saio em direcção ao carro sentindo-me um tanto quanto confuso, afinal de contas onde fica a casa 2? Ela é o produto da minha psicose, tentando criar uma extensão do meu quarto fora das obrigações domésticas. Um ninho de mel com voluptuosas companhias. Afinal não cheguei a arranjar uma…

Com um misto de aprovação e desanimo, meto a mão no bolso:
- Alô? Olá amorzinho. Vou passar pelo supermercado, queres que te traga algo daqui?
Pensando bem, porque sou homem, e tenho licença para desbundar, ainda que ainda não esteja assinada pela senhora. Melhor mesmo é ir para casa.
_________________________________
Do português do moçambicano, temos:
Casa 2 – na cultura moçambicana, é o mesmo que casa da amante
Fesquinhas – é mesmo que cerveja gelada

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Meu Aniversario

Feliz aniversário
Hoje e meu aniversário
Me pego, desejando-me Felicidades.
Estranho alguém desejar o melhor para si,
Mas é o que no momento me ocorre.
Desejo que minhas vontades sejam todas satisfeitas!
Afinal, a data é importante porque Eu nasci.
Dos familiares quero amor incondicional,
Dos amores a compreensão costumeira,
Dos grandes amigos, total dedicação;
Dos amigos distantes as ótimas recordações.
Que todos me visitem ou mesmo telefonem.
Mas que não se esqueçam desta data.
Que meu interior alcance a perfeição;
Minha fé nunca se abale,
Minha esperança nunca esmoreça.
Que o espírito de menina jamais se vá,
E que nunca me falte inspiração.
E sobretudo que Deus Continue ao meu lado,
Não só neste meu aniversário
Mas em todos os outros que ainda me restam.
Feliz Aniversário para mim, afinal
sou merecedor de grandes realizações.
Parabens a Voce.
Um momento especial de renovação para sua alma e seu espírito,
Porque Deus, na sua infinita sabedoria,
Deu à natureza, a capacidade de desabrochar a cada nova estação
E a nós capacidade de recomeçar a cada ano.
Desejo a você, um ano cheio de amor e de alegrias.
Afinal fazer aniversário é ter a chance de fazer novos amigos,
Ajudar mais pessoas, aprender e ensinar novas lições,
Vivenciar outras dores e suportar velhos problemas.
Sorrir novos motivos e chorar outros, porque,
Amar o próximo é dar mais amparo,
Rezar mais preces e agradecer mais vezes.
Fazer Aniversário é amadurecer um pouco mais
E olhar a vida como uma dádiva de Deus.
É ser grato, reconhecido, forte, destemido.
É ser rima, é ser verso,
é ver Deus no universo;
Parabéns a você nesse dia tão grandioso.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Rambonation..


In the kindergarden,
someone somewhere is learning the colors of the raibow.
Beautiful colors one after another…

It’s been long since 1994 when last I saw
the fighter jets flying high and proud the colors of the nation…
But I remember someone saying to the masses…
Year after year, someone else made eco to those same words…
We must embrace the raibownation.
We are free; we have finally conquered our freedom
to do whatever pleases our hearts.

1994…
days…
months…
years…
spring after spring…

In this beautiful country of ours with our 11 official languages,
we are all screaming minding own business,
trying to understand each other…

The petrol is high,
my bread is high,
my milk is high,
my neighbor is highjack,
my moral is down…

While enjoying the new freedom,
in the mess of the 11 languages,
we misunderstood ourselves.

While calling for raibownation,
some understood a calling for rambonation…
Bang, bang here, bang, bang there…
its rambonation.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Eu Negro


Eu negro, que com meu manto da noite cubro o ceu azul com suas estrelas reluzentes...
Eu negro, estendo-me no chao fazendo caminho para o homem passar em busca do branco.
Eu negro talvez da graxa ou do carvao da xibata.
Eu negro como que as trevas, ninguem me quer mas todos chamam por mim.
Eu negro como a dor... Grito bem alto!
Eu sou negro!

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Na esquina de Maputo


Tem quem se lembra de Lourenco Marques.
Tem tambem quem se lembra de Maputo.
Eu nao consigo deixar de lembra-la como A Cidade das Acacias... Com seu perfume caracteristico, o ar quente batendo no meu rosto suado, as arvores verdes cheias de flores coloridissimas...

Desco a avenida assobiando "Jorogina" do Fany Mfumo, maos nos bolcos como quem nao quer nada, a minha mente vagueia mais rapida que os meus pes pelas ruas da baixa.
Sento-me no cafe Scala para tomar ar, escolho uma mesa na esplanada, ja que nao sei assobiar embora inveije os meus amigos que com toda a pericia de pastor assobiam com pulmao e meio todos aqueles toques de chamada... levanto a mao meio tidamente para chamar o mocinho, e peco uma Rainha.

De pernas cruzadas voltado para a estrada aprecio o movimento de meninos que pedem quinheta, dos mocos que vendem pecas de artesanato, do velho engraxador de sapatos sentado na sua caixa-oficina, do ardina que grita os titulos do jornal Noticias, das mamanas vestidas de capulanas de cores coloridas que vem do Mercado Municipal com cestos de palha na cabeca.

Perco-me nesta visao da minha terra, o despontar da minha mocidade neste espaco, onde me sinto parte integrante daqueles que jazem personagens da minha estoria do outro lado da mesa... senhor! senhor! ... O cha ja esta! - Acho que me assustei com a minha ausencia! O servente pos o cha na mesa, sorriu e perguntou se desejava mais alguma coisa... Ainda meio ausente, tentei retribui-lo esbocando um sorriso tambem, mas acho que nao me sucedi como devia ser, senti que o meu sorriso tinha mais a ver com uma expressao de "porra meu, assustaste-me!"

Ainda contemplando as acacias da minha terra, de dois tragos desmaterializei a Rainha goela abaixo, ficando depois com um sentimento de culpa. nao era suposto ser assim, deveria ter tomado este cha com mais calma...

O fim do cha tirou-me a vontade de continuar sentado, afinal era o pretesto para li estar naquela esquina sem fazer nada, so que deste lado da mesa.
Vou-me conteplando as acacias da minha terra...

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Meu Harem


Mil mulheres nao fazem meu harem!

Brotado nas margens do Indico, neste calor torrido tropical temperado de chuva miuda das moncoes, naquela que e a mais linda cidade, deambulo pelas estreitas ruas impregnadas de belas mulheres de todas as racas e feitios, situo-me.

Olho em redor como que a procura de um refugio, atraido pela complexidade das formosuras destas belas mulheres do meu pais, nao sei se vou ou venho.

Transpiro pelos milhoes de poros do meu ser, estou amando isto, acho que amo a moca de saia rodada, tambem aquela de plinsado, aquela tambem, e esta de capulana nao deixo para tras...

Esta cidade esta lotada das mais belas mulheres do planeta. Sinto-me Sultao do meu harem.

Mulato




O que e ser-se mulato?

A fusao de culturas, o atrevimento de atravessar barreiras raciais, a recompensa de uma aventura, o preto-quese-branco, o branco-quase-preto, o filho Maria com o sr Lopes, o filho bastardo da vizinha, o moco-de-lado-que-e-advogado-na-tuga...

Raios que os parta, e so um gajo qualquer como tu pa!

O Tempo e a Memoria

Sinto-me traido pelo tempo. Ela caminha a passos gigantescos como quem tem o horizonte a alcancar antes da alvorada... Hoje estou sentado na sombra desta mafurreira onde bate uma brisa deliciosa, daquelas que me convidam a estender-me por aqui mesmo e roncar de boca aberta porque sabe bem, e de repente quando vonto a mim, ja e memoria de ontem. O tempo me traiu de tal maneira que a minha vida e tudo em redor e memoria de um dia.

Os miudos estao tao crescidos que ate parece que se alimentam de soda.
A minha tia ja esta tao ruguenta que parece a vovo... Olho-me ao espelho todas as manhas e nem noto que tambem ja tenho rugas e os cabelos ja nao sao os mesmos de ontem, ate pareco o meu tio...

O tempo me trai e passa a correr sem me deixar viver o hoje...
Agarro-me as memorias que teimam em desfilar aos meus olhos de um tempo que ate bem pouco tempo eram de hoje...

Companheiro; deixa de bobagem, tira esse bundao dessa cadeira e vai viver o agora emquanto e tempo...