segunda-feira, 20 de outubro de 2008

O povo amarelo


por Celso Amade
celsoamade@hotmail.com

Chinoca para aqui, chinoca para ali. Até tinha a sua graça. Foi assim que eu cresci. Falávamos dos chinas como um povo muito distante de outro mundo.

Em Moçambique também tem chinocas que já lá estão há muitas décadas; são chinocas de muitas geraçëes, que já são nacionais no seu pleno direito, como eu.
Chegou o seculo XXI e tudo mudou.


Andavam todos com o medo do fim do mundo assim que chegasse o ano 2000. Nada aconteceu para além de abarrotarem as igrejas. O padre adorou ver seu rebanho completo de mala e cunha, fosse a eventualidade do Senhor chamar já, já.

Bill Gates e a Microsoft também participaram na entrada do milênio em estilo próprio. “Há que precaver do síndrome de Y2K. Rios de dinheiro foram gastos actualizando o relógio do computador, caso contrário não estaríamos compatíveis com o novo milênio.
Já não é o exercito vermelho que saiu em força, mas sim o povo amarelo que emigrou em força retornando a proveniência. África, o berço da humanidade.

Característico dos manda chuvas chineses, as suas medidas são sempre drásticas. Um quinto da população mundial e chinesa vivendo na China, os chinocas emigrados antes não contam, já estão contabilizados nos sensos populacionais de cada pais acolhedor.

Medida drástica; a casa de Ho Chi Min estava rebentando pelas costuras, já não cabia lá mais ninguém, então decretou-se a lei de filho único para cada casal (se isso não resultasse talvez mandariam os lutadores sumos emagrecerem para poder caber la).

Nos cá continuamos a fazer sete, oito filhos para inveja dos manos chinos.

Primeiros chinocas em Maputo datam de 1975
Medida drástica; já não somos socialistas comunistas, agora somos capitalistas. Os maninhos chinocas já não procuram pelo vermelho, agora procuram o verde do dólar.

Medida drástica; onde até bem pouco tempo aterrorizava-me a idéia da grande muralha que mantinha o estrangeiro do lado de fora e também os chinos do lado de dentro,
Admirou-me ver os jogos olímpicos. Multidões de estrangeiros do outro lado do muro.

Na minha terra, o chinocas estão se tornando nacionais outra vez. Constróem obras de engenharia, enchem o mercado de bugigangas de segunda categoria, vendem roupa e calçado ao preço de água (água não, que tá se tornando cara, talvez dizer preço do ar, já que esta poluído mesmo), E eu choro com isso.

Problema drástico; as nossas fábricas de calçado faliram, as fábricas de vestuário faliram, os empreiteiros locais faliram… o povo está desempregado, com salários em atraso para receber e contas por pagar.

Afinal de contas quem paga quem? Os maninhos chinocas (baixinhos como são até fica mal dizer mano-velho). O governo faz vistas grossas ou não se percebeu da espada de dois cumes que os chinos ofereceram? Serão propinas?
Onde vai parar a revolução amarela?
Mais não disse, mas estou preocupado.

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