sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Provações e penitências de um povo.



O meu povo já sofreu muitas provações e penitências e sempre foi muitíssimo bem sucedido.
Desde os primórdios do tempo cronometrado, sempre fomos um povo maningue nice.
Vieram os navegadores árabes com suas missangas, panos e bugigangas em troca do ouro, cobre, marfim e demais… Com muito gosto e até honra nós fizemos as trocas.


Vasco da Gama também ancorou em nossa casa; nós sorrindo e cantando boas vindas abrimos as portas. O camarada ficou tão satisfeito que apelidou a minha casa de terra da boa gente depois de ter enchido os porões de mantimentos e sei la que mais.

Na convenção da partilha de África coube-nos o destino de sermos uma fatia do bolo português. Imagino como seria se o raio da fatia tivesse caido no prato alemão ou inglês. Imagino mesmo.
O ouro de que todo o mundo anda atrás existe na minha terra. Mas não tanto como na terra dos Zulus. E é lá que o meu povo anda desde me recordo por gente. Como topeiras, embrenhando-se pelo ventre da terra cavando trincheiras e túneis procurando a pedra amarela. Gerações e gerações de gente minha enchendo o bolço e o ego do patrão estrangeiro em troca de um mísero salário e saúde.

Nas plantações, mulheres e crianças labutam de sol a sol plantando e colhendo para entulhar a despensa das madames em troca da entoxicação das pesticidas e o mesmo maldito mísero sálario.

Sofremos em solo próprio o efeito da extenção do braço manipulador e racista de um estado minoritário que com muita eficiência criou desestabilização na região.
Juntos choramos a prisão e a liberdade de Mandela.
Mano a mano, palmo a palmo, suor a suor, ombro a ombro contruimos a terra que vai juntar África na festa da bola em 2010.

Mas… Os acontecimentos recentes me puseram com um nó no coração.
Até aquele dia fatídico, não sabia que havia divisionismo entre nós. Em nome da xenofobía, meu povo foi caçado como animal, violentado, desalojado, despojado de seus ricos poucos haveres; pior que um animal, foi queimado vivo.

Pagamos pelo pecado de ser Moçambicanos na terra dos outros.
Ponham os panos quentes em cima, da côr que quiserem, o mal esta feito, o coração sagra de dôr.
De irmão para irmão, como fomos baixar assim tanto?

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