segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Sexta-feira, dia do homem


Este facto é consumado; já não requer negociatas, nem invenção de desculpas esfarrapadas. José José quando sai do trabalho as 17 horas, sente-se um tanto quanto estranho de se sentir possuidor de tamanha preciosidade… Liberdade! “carta de Alvará!” A famosa licença para desbundar.

Ora bolas! estou aqui a falar de um tema tão rico e intrigante usando pseudônimos; José José; onde já se viu coisa assim?

Este e um sentimento legítimo na primeira pessoa, embora não tenho tido este privilégio faz já muito tempo [matéria para outras fábulas], ainda posso contar o que milhões de homens de H maiúsculo já sabem. Uns vivem a novela toda a sexta-feira, outros fingem conseguir materializar o sonho de todos alfa-machos.

Na quinta-feira à noite, enquanto faço a revisão mental das atividades do dia seguinte no escritório, deparo com a minha mente frívola de ansiedade percorrendo os planos pormenorizados da função pós 17 horas. Nem me lembro de ter revisto a reunião das 14 horas com a diretoría. Nada. Só 17 horas. Percorreu pelo meu corpo um sentimento forte, indescritível; senti um calor e sorri…

Amanhã é dia do galo. Bendito camarada que idealizou o dia do homem. O dia passa lento. Passo de camaleão coxo, mas acaba chegando às 17 horas. Quando eram ainda 16 horas, comecei a preparar-me, fui aos lavabos me refrescar, pentear, re-pentear, ajustar a calça, re-ajustar a coeca, limpar os sapatos, enfim, a lista do ritual de asseio torna-se infinita às sextas.

Para ter certeza de que não seria importunado no “meu dia” ligo para casa para jogar conversa fora, e como quem não quer nada, fazer-la saber de que a pilha do meu móvel não esta lá muito abastada de carga. Logo após, desligo o aparelho.Afinal hoje é sexta-feira, dia do homem, tá tudo liberado, é geral (como quem diz).

Para começar a gozar do “meu dia,” que afinal de contas já é noite, vou me encontrar com a malta no “pub” da baixa. Tomar umas e outras, por a fofoca em dia (afinal macho também tem “updates” para fazer, sobre as fesquinhas), mais logo quando já estiver no ponto, talvez uma volta para casa 2. Programa perfeito.Desço a avenida com um sorriso maroto, já a pensar nos desfrutes da carne.

Chegado ao bar, não esta la ninguém da malta. Talvez ainda seja sedo. Calmamente, sorvo uma taça e outra atrás da última. Não aparece João Paulo nem Paulo João. Ninguém. Espera ai; afinal eu tenho um celular nê? Poderia ligar para alguém. Mas seria arriscado demais, a minha primeira-dama poderia acesa-me nessa janela. Ainda me estraga o dia/noite.

Já que os gajos não dão as caras, talvez ganhe mais se for para casa 2. Lá as coisas com certeza são menos frustrantes. Acabo a taça depois da última e peço a “saideira”.

Saio em direcção ao carro sentindo-me um tanto quanto confuso, afinal de contas onde fica a casa 2? Ela é o produto da minha psicose, tentando criar uma extensão do meu quarto fora das obrigações domésticas. Um ninho de mel com voluptuosas companhias. Afinal não cheguei a arranjar uma…

Com um misto de aprovação e desanimo, meto a mão no bolso:
- Alô? Olá amorzinho. Vou passar pelo supermercado, queres que te traga algo daqui?
Pensando bem, porque sou homem, e tenho licença para desbundar, ainda que ainda não esteja assinada pela senhora. Melhor mesmo é ir para casa.
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Do português do moçambicano, temos:
Casa 2 – na cultura moçambicana, é o mesmo que casa da amante
Fesquinhas – é mesmo que cerveja gelada

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